oficina da luta

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Esse espaço é direcionado a todos que curtem o mundo das Lutas.

sexta-feira, 24 de julho de 2020

MANIFESTO - OFICINA DA LUTA


"O caminho do guerreiro na pós modernidade - seus desafios e oportunidades " 
 
 Dirigimos essa mensagem a todos os praticantes , simpatizantes , leigos, ou qualquer pessoa que tenha no mínimo curiosidade sobre as artes marciais com a finalidade de refletir como será o futuro das artes marciais, após esse momento marcante da nossa história. 
Quero escrever esse texto talvez como uma cápsula do tempo, onde futuramente possamos olhar e ver quanto acertamos e quanto estávamos errados ou mesmo tentar entender o momento que vivemos hoje.
Em primeiro lugar de agora em diante passo a tratar esse conceito como Arte Marcial no singular e não mais artes marciais (no plural), pois acredito que a Arte Marcial é um “todo” indivisível porém que se apresenta na forma de  diversas modalidades.
A Luta para mim é apenas um aspecto da Arte Marcial, como já disse um sábio uma vez "a arte marcial é tão completa que serve até para lutar" se referindo que ela pode ser dividida em luta , esporte, diversão, exercícios, sobrevivência, cultura, história, etc.
Bruce Lee em uma entrevista para TV afirmou: -Eu não ensino Karatê porque não acredito mais em estilos. Não acredito no modo de luta chinês ou no japonês. A menos que tivéssemos três braços e quatro pernas, poderia haver diferentes formas de combate. Os estilos tendem a separar os homens porque eles têm suas próprias doutrinas, e a doutrina se torna uma verdade que você não pode mudar. Dizem que ele próprio se arrependeu de dar nome ao seu estilo preferindo chama-lo de ARTE MARCIAL simplesmente.
Uma vez uma professora me disse se referindo ao ensino
da  Matemática: _ Rapaz ou você vê a floresta ou você vê a arvore! Ou seja, em enxergar o Todo ou as partes uma a uma. Ela queria dizer que poderia passar o ano todo ensinando por exemplo “Frações” e não esgotaria o assunto, mas onde ficariam as equações, as formas geométricas , os gráficos ,  a Probabilidade, Porcentagem,
 etc . Que eu deveria fazer esse exercício de enxergar o todo e cada uma das partes. Trabalhando esse processo de construção e desconstrução o tempo todo. Ou mesmo como uma Exegese Bíblica do geral para o particular, e do particular retornando ao Geral.
Semelhantemente os estilos são fatias da Arte Marcial, acho que era isso que Bruce Lee queria expressar. 
 Vamos então pensar no todo para chegar nas partes.
A luta na forma livre é tão antiga quanto ao homem, podemos afirmar com certeza que em todas as épocas e em todas as culturas o homem sempre lutou e pelos mais variados motivos para se defender, para ampliar seus territórios, para se exercitar ou mesmo para se divertir. A luta faz parte da cultura de todos os povos e de todas as épocas.
As origens mais remotas da arte marcial são da pré-história, quando o homem primitivo, de uso de um pedaço de pau, pedra, ou osso, se defendeu de animais selvagens ou de algum inimigo.Foram encontradas pinturas rupestres de Lutas (homens das cavernas - Mesolítico). As técnicas de lutar  foram se aperfeiçoando gradativamente e transmitidas às gerações posteriores. Métodos mais eficazes de guerrear foram criados, estudados, aperfeiçoados e ensinados durante toda a história da humanidade. Em alguns textos anteriores defendi a idéia de que não houve um único centro gerador da arte marcial e sim que foi pipocando em diversas partes do mundo nos mais variados povos e nas mais variadas épocas, não tendo necessariamente relação entre si ainda que eventualmente isso pudesse ocorrer porque o homem também viaja e entra em contato com outras culturas. A questão dos nomes das lutas também é um caso a ser discutido por exemplo:
JUJUTSU era um nome genérico para diversas formas de lutar no Japão antigo, existiam então centenas de escolas diferentes , com sistemas diferentes porém com um mesmo nome jujutsu, o mesmo podemos dizer do KUNG FU um nome genérico para diversos estilos de luta chineses, sendo que existem inclusive estilos que são praticados por famílias no quintal de casa . Alguns tempos atrás o saudoso mestre Naja disse em entrevista que quando morou na Tailandia observou que o ensino de Muay  Thai era realizada em pequenas células . Uma disputa na justiça pela marca Krav Maga chegou a seguinte sentença que krav maga é traduzido como defesa pessoal portanto ninguém possui como marca.
Enfim muitos praticantes querem defender que o seu estilo é o mais tradicional, ou verdadeiro ou mais eficiente pois a Arte Marcial também disputa um mercado. Mas como nos comportar diante dessa polaridade?
Acredito que como praticante de Arte Marcial devemos ter dois Olhos.
Vou explicar .
Um olhar voltado para trás, ou seja,  para a Tradição , para o nosso passado, com profundo respeito aos nossos  mestres e a história da sua escola. Não existe arte marcial sem o legado dos povos antigos e toda a sua contribuição para o que temos hoje.     

Mas também ter um olhar para frente para o novo, para tudo que tem surgido. Com a criação do UFC houve uma verdadeira mudança no modo de pensar das pessoas, muitos notaram que para enfrentar um desafio daquele era necessário estudar mais que uma modalidade marcial, hoje é quase senso comum que estudar um único estilo é ineficiente para esse tipo de combate.
O treinamento cruzado de vários estilos de luta que no passado era tratado como verdadeira traição hoje se faz necessário para quem que lutar no MMA. Podemos afirmar que a Arte Marcial está em constante evolução. Um método de defesa pessoal dos anos 50 não é mais eficiente nos dias de hoje pois o comportamento do homem também mudou.
 “ Não existe nada fixo na arte da guerra”.
Portanto defendemos que de agora em diante devemos ter esses dois olhares : reverência ao passado e mente aberta para o novo.
 Tudo indica que o conhecimento será Híbrido .
Basta ver como a nova geração se comporta diante da informação. Eles se informam mudando de canais , transitando de um conteúdo para outro formando uma verdadeira colcha de retalhos, a mesma coisa tenho visto com jovens em relação aos estilos de arte marcial . Tenho alunos que apesar da pouca idade já passaram por capoeira, jiu jitsu , karatê , etc. Por alguns é visto como um diletante, um entusiasta que ainda não se encontrou em nada, porém eu não vejo desse modo, porque eu acho que quem busca a verdade com sinceridade e não com interesse de vantagem  pessoal terá que fazer esse caminho. Eu particularmente sempre percorri essa trilha.


Outro dia um mestre me disse que havia desistido porque essa geração não quer nada. Será que não quer nada? Ou não quer o que está sendo oferecido?
Taí a necessidade de exercitar os dois olhares.
Estaremos preparados para encarar o sistema híbrido de luta? Ou estaremos presos as nossas verdades, fixas e imutáveis?
Vejo que esse movimento já vem tomando forma na internet posso citar canais famosos com Núcleo Dharma, Kav Maga Caveira, e outros que já tem essa visão aberta e progressista da luta. 
O modelo será descentralizado.

Hoje completa 4 meses que estamos em quarentena no Brasil, todas as escolas e academias estão ainda fechadas, as pessoas em sua maioria em isolamento social. O nosso centro de artes marciais está fechado e estou terminando a minha pós graduação em treinamento em artes márciais mistas.  É um tempo onde muitos pensadores dão suas opiniões de como será o recomeço ou como muitos estudiosos passaram a se referir o novo normal.

Descentralização Talvez aí esteja o ponto mais polêmico do meu texto. Vou apelar o tempo todo para o princípio da dualidade, lembrando que um grande perigo é o de tomarmos um determinado partido ou se tornar radical defendendo com fanatismo um lado em detrimento do outro.

Até que ponto podemos seguir um caminho totalmente independente dentro da nossa arte marcial?

Se por um lado ninguém consegue praticar arte marcial sozinho porque sempre precisamos do outro para aprender, para treinar e até mesmo para competir para ver em que nível nós estamos enquanto eficiência, por um outro lado o último degrau de evolução dentro da arte é o da “liberdade” ou “RI” (separação), assumindo o  seu estilo pessoal.

Um dos grandes debates dos dias atuais dentro da Internet é sobre a existência das Federações e Confederações, onde a questão principal é: DEVO ME FEDERAR? Ou ainda, QUAL É O MEU PRINCIPAL OBJETIVO EM ME FEDERAR?

Bom vamos começar analisando a função da federação (e consequentemente das confederações). As principais finalidades de uma federação seria a divulgação do esporte, sua organização e a promoção de eventos e campeonatos. Até aí sem problemas, porém vamos lembrar que não existe uma única confederação, vou tomar como exemplo o Jiu Jitsu, em se tratando de Confederação temos: CBJJ, CBJJE, CBJJO, CBJJD, CBJJP, CBJJT, CBJJ&J e outras que desconheço. Federações então dezenas. Que pelo conflito de interesses, não existe consenso entre as entidades e a realização de torneios independentes e periódicos não preveem uma disputa para unificação de títulos. Existem questionamentos sobre as cifras arrecadadas com a realização de campeonatos, onde não se demonstra investimento no crescimento do esporte, já que seria uma obrigação das federações, segundo os estatutos.

Agora vamos supor que existisse somente uma única Confederação, nesse caso, poderia surgir um outro problema, sendo ela “única” poderia se tornar arbitraria ou mesmo autoritária e não mais atender ao interesse coletivo. Ou mesmo se associar politicamente com pessoas com má intenção.

 Você consegue perceber como é complicada essa questão???

Ao mesmo tempo que precisamos competir ou mesmo entrar em contato com outras escolas, a nossa escola muitas vezes prioriza valores diferentes das demais escolas.

Imagine campeonatos que terminam em palavrões ou mesmo em pancadarias o prejuízo que causa para um DOJO por exemplo que tem o ensino voltado para crianças.

Portanto volto a declarar que existem escolas para todos os gostos e para todos os bolsos. Devemos então quando buscar uma escola ter muito bem definido qual é o nosso objetivo: quero competir, desejo me tornar um campeão mundial? Ou apenas quero treinar para me exercitar e ter uma qualidade de vida, por recreação, ou ainda, para buscar pertencimento a um grupo que compartilha um mesmo estilo de vida, atividades e interesses similares. Tudo isso deve ser considerado.

E a escola também definir qual tipo de pessoa ela quer agregar. Isso deve ser muito bem conversado.

Pesquise na Internet sobre os tipos atuais de Jiu Jitsu (Old School, New School, American JJ, BJJ, Gracie JJ, Tradicional, e muitos outros menores) se você acha pouco saiba que no Japão antigo existiam mais que 700. Ou mesmo que nos anos 80 e 90 cada esquina tinha um estilo de Karatê diferentes em tudo.

Acredito que a arte marcial por ser muito ampla vai conseguir abarcar todos os tipos de interesses no futuro.

Por esse motivo eu alertei no início que estávamos diante de uma DUALIDADE, da mesma forma que precisamos ter contato com outras escolas para compararmos ou mesmos testarmos nossos conhecimentos, por outro lado precisamos nos distanciar para defender nossos valores e prioridades, precisamos das confederações desde que elas não se tornem autoritárias ou abusivas.

Necessitamos dos nossos mestres mas devemos nos lembrar de um princípio importante do Budô que é o:

 

SHUHARI

Shuhari significa:

Shu ou Obedecer: esse é o momento em que o aprendiz precisa ser humilde e robótico, e obedecer quais são os principais pontos que devem ser seguidos (também conhecidos como regras). É quando ele precisa repetir o que o mestre diz sem utilizar muito do pensamento crítico durante o processo. É o foco em seguir cegamente técnicas validadas.

Ha ou Desviar: nesse segundo momento, o aluno passa a quebrar pouco a pouco as regras anteriores, ainda com o resultado final em mente. É o momento em que a teoria e o conhecimento passam a desafiar as técnicas, e os princípios passam a ser o diferencial para a evolução do conhecimento.

Ri ou Separar: nesse momento não existem mais técnicas, princípios ou conhecimento útil que não venham de fora da mente. A partir de agora, as atividades são executadas de forma natural, a evolução dos processos e do conhecimento surgem do indivíduo e temos inovação e quebra de paradigmas.

28.09.2020 

A oficina da luta é conceitual, ela é uma ideia, não se trata de uma instituição, não temos sede fixa, estatutos, funcionários etc. O encontro de pessoas que curte arte marcial, a troca de conhecimento, as parcerias, e a discussão de temas é que formam isso que chamamos de Oficina. O movimento surgiu por volta do ano de 2010, de maneira quase espontânea, em um momento em que um grupo de educadores resolveu criar um movimento cultural que envolvesse a criação de Cineclube, Grupos de Teatro e Danças, Cafés Filosóficos, Feiras Literárias e outras manifestações locais , dentro deste caldeirão cultural que estava se formando pediram ao Prof. Anízio Jr que apresentasse uma proposta envolvendo a Arte Marcial , oportunidade em que apresentou um conjunto de ideias que acabou na formação da iniciativa “oficina da luta” que  tinha como proposta principal  aproximar as pessoas ao universo das artes marciais, através de treinos, pesquisas, palestras, laboratórios, encontros, apresentações, produção de textos , franzines, e disponibilização de material na internet.

Desde que surgiu a oficina assumiu diversas formas até chegar ao formato atual. A princípio expressando sua visão sobre as lutas, em fanzines, e desenvolvendo seus encontros e treinamentos em igrejas, clubes, espaços culturais, escolas e salões da prefeitura. Até 2019 não teve uma sede fixa.

A oficina da luta se dedica a praticar livremente e de maneira eclética todos os tipos de técnicas de autodefesa, contando atualmente com vários colaboradores de diversas modalidades de lutas, ensinando e aprendendo diversos estilos e formas diferentes. Com total liberdade para trocar experiências, livre de amarras chamadas de "estilos".

Não possuimos nenhuma linhagem clássica ou hierárquica, apresentamos uma estrutura descentralizada, horizontal, sem chefe ou estatutos escritos. Nosso objetivo principal é formar uma grande comunidade de pessoas com ideias semelhantes se ajudando através da troca de conhecimentos, sempre buscando mecanismos para que as pessoas se conectem e construam relacionamentos saudáveis ​​com base na amizade, treinamento e respeito mútuo, independentemente da categoria na faixa.

Apesar de se considerar um Grupo Independente, sem levantar bandeira de nenhuma equipe ou ideologia, com autonomia nas tomadas de decisões e livres de qualquer influência, atualmente tem seu trabalho reconhecido por várias Comunidades Marciais e Associações recebendo diversos selos e certificados. 


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