A algum tempo tenho estudado sobre os ideogramas que formam as artes marciais japonesas BUDÔ.
Achei muito interessante o artigo desse autor que vou transcrever abaixo com a devida referência:
OS PIONEIROS DO TODE/KARATE (MÃO CHINESA)
FROSI, Tiago Oviedo. Porto Alegre:
A maioria das pessoas quando inicia o treinamento do Karate-Dō,
do Judō, do Aikidō ou de qualquer outra arte marcial japonesa (Budō) se
pergunta o que essas palavras do idioma nipônico significam. Quando pesquisamos
na internet ou mesmo em muitos livros (incluindo aí obras importantes como os
volumes de Nakayama sensei), encontramos a tradução Karate = Mãos Vazias. De
fato o primeiro ideograma (Kanji) para Karate é Kara (空), a Vazio, e tem muitos usos. Um dos usos é a designação de um
espaço vazio comum, uma vaga de estacionamento livre, por exemplo. Porém é
também usado na Filosofia Oriental, especialmente no Budismo, como designação
para o mais profundo estágio e nível da Consciência ou da Totalidade, o Anel do
Vazio ou Kuurin (空輪). Quando escreveu os livros Karate-Dō
Kyohan e KarateDō Nyumon, na primeira metade do século XX, Funakoshi Gichin sensei
deixou bem claro que era a esse “Vazio Espiritual” que se referia, afirmando
entre outras coisas que, para alcançar o verdadeiro domínio da arte, o karateka
precisava livrar-se dos desejos, dos apegos e das suas limitações internas.
Estava diretamente influenciado pela filosofia budista. No Ocidente, a
Psicologia chamou esse processo de “integração da Sombra”. Este é, portanto, a
primeira razão pela qual não devemos pensar em Karate como mãos vazias ou livre
de armas, como muitos propõem.
O próprio Funakoshi sensei nesses livros refuta esse
significado. Ao entrar no tópico de que Karate é a “arte das mãos vazias”, em
que não se usam armas, caímos na segunda questão: não se usa mesmo nenhuma arma
no treinamento de Karate-Dō? Ora, usa-se! São as armas tradicionais do Okinawa
Kobudo, também usadas na China e, conforme os mitos, inspiradas nas ferramentas
rurais. Quando começou a lecionar no Japão, Funakoshi sensei ensinava o uso do Bo
(bastão longo) e Sai (gancho de três pontas, ou ancinho), além de usar outros
equipamentos relacionados às práticas com armas que são as ferramentas de
enrijecimento corporal (Tanren). Por razões políticas (o Japão já tinha seu
Kobudo, que empregava a Katana, a Naginata, o Kyu, o Yari e outras armas), a Nihon
Karate Kyokai (depois JKA) excluiu o treinamento com armas dos currículos do Karate
e passou a defender a tradução do nome “Mãos Vazias” associado ao não uso de
armas. Mesmo com essa jogada que dominou a mente de muitos praticantes por
anos, outros estilos como Goju-ryu, Shito-ryu, Ryueiryu e muitos outros, além
de dissidências dentro do próprio Shōtōkan, mantiveram o treinamento de Kobudo (Caminho
das Armas Antigas) associado ao Karate-Dō. Sendo assim, para defender tanto a
memória do trabalho de Funakoshi sensei quanto os fundamentos vitais do Karate original,
há muitos anos venho defendendo que se abandone a tradução “mãos vazias” e passemos
para a tradução mais adequada “Caminho das Mãos do Vazio”. Essa tradução nos
lembra que trilhamos uma senda (Dō) em que, através do aperfeiçoamento de nosso
corpo, de nossas mãos e técnicas (Te), chegaremos à evolução de nosso caráter e
também avançaremos espiritualmente, pois temos uma meta, que é nos aproximarmos
desse Vazio (Kara). A mensagem por trás da mudança do nome Karate (唐手 = mãos dos Tang/China) para Karate-Dō (空手道 – Caminho das Mãos do Vazio) pretende sugerirnos que
trilhemos um caminho integral, desenvolvendo corpo, mente e espírito, dentro da
tradição japonesa do Budō
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