Descentralização Talvez aí esteja o ponto mais polêmico
do meu texto. Vou apelar o tempo todo para o princípio da dualidade, lembrando
que um grande perigo é o de tomarmos um determinado partido ou se tornar
radical defendendo com fanatismo um lado em detrimento do outro.
Até que ponto podemos seguir um
caminho totalmente independente dentro da nossa arte marcial?
Se por um lado ninguém consegue
praticar arte marcial sozinho porque sempre precisamos do outro para aprender,
para treinar e até mesmo para competir para ver em que nível nós estamos
enquanto eficiência, por um outro lado o último degrau de evolução dentro da
arte é o da “liberdade” ou “RI” (separação), assumindo o seu estilo pessoal.
Um dos grandes debates dos dias
atuais dentro da Internet é sobre a existência das Federações e Confederações, onde
a questão principal é: DEVO ME FEDERAR? Ou ainda, QUAL É O MEU PRINCIPAL
OBJETIVO EM ME FEDERAR?
Bom vamos começar analisando a função
da federação (e consequentemente das confederações). As principais finalidades
de uma federação seria a divulgação do esporte, sua organização e a promoção de
eventos e campeonatos. Até aí sem problemas, porém vamos lembrar que não existe
uma única confederação, vou tomar como exemplo o Jiu Jitsu, em se tratando de
Confederação temos: CBJJ, CBJJE, CBJJO, CBJJD, CBJJP, CBJJT, CBJJ&J e
outras que desconheço. Federações então dezenas. Que pelo conflito de
interesses, não existe consenso entre as entidades e a realização de torneios
independentes e periódicos não preveem uma disputa para unificação de títulos.
Existem questionamentos sobre as cifras arrecadadas com a realização de
campeonatos, onde não se demonstra investimento no crescimento do esporte, já
que seria uma obrigação das federações, segundo os estatutos.
Agora vamos supor que existisse
somente uma única Confederação, nesse caso, poderia surgir um outro problema,
sendo ela “única” poderia se tornar arbitraria ou mesmo autoritária e não mais
atender ao interesse coletivo. Ou mesmo se associar politicamente com pessoas
com má intenção.
Você consegue perceber como é complicada essa
questão???
Ao mesmo tempo que precisamos
competir ou mesmo entrar em contato com outras escolas, a nossa escola muitas
vezes prioriza valores diferentes das demais escolas.
Imagine campeonatos que terminam em
palavrões ou mesmo em pancadarias o prejuízo que causa para um DOJO por exemplo
que tem o ensino voltado para crianças.
Portanto volto a declarar que existem
escolas para todos os gostos e para todos os bolsos. Devemos então quando
buscar uma escola ter muito bem definido qual é o nosso objetivo: quero
competir, desejo me tornar um campeão mundial? Ou apenas quero treinar para me
exercitar e ter uma qualidade de vida, por recreação, ou ainda, para buscar
pertencimento a um grupo que compartilha
um mesmo estilo de vida, atividades e interesses similares. Tudo isso
deve ser considerado.
E a escola também definir qual tipo
de pessoa ela quer agregar. Isso deve ser muito bem conversado.
Pesquise na Internet sobre os tipos atuais
de Jiu Jitsu (Old School, New School, American JJ, BJJ, Gracie JJ,
Tradicional, e muitos outros menores) se você acha pouco saiba que no Japão
antigo existiam mais que 700. Ou mesmo que nos anos 80 e 90 cada esquina tinha
um estilo de Karatê diferentes em tudo.
Acredito que a arte marcial por ser
muito ampla vai conseguir abarcar todos os tipos de interesses no futuro.
Por esse motivo eu alertei no início
que estávamos diante de uma DUALIDADE, da mesma forma que precisamos ter
contato com outras escolas para compararmos ou mesmos testarmos nossos
conhecimentos, por outro lado precisamos nos distanciar para defender nossos
valores e prioridades, precisamos das confederações desde que elas não se
tornem autoritárias ou abusivas.
Necessitamos dos nossos mestres mas devemos
nos lembrar de um princípio importante do Budô que é o:
SHUHARI
Shuhari significa:
Shu ou Obedecer: esse é o momento em que o aprendiz precisa ser humilde e
robótico, e obedecer quais são os principais pontos que devem ser seguidos
(também conhecidos como regras). É quando ele precisa repetir o que o mestre
diz sem utilizar muito do pensamento crítico durante o processo. É o foco em
seguir cegamente técnicas validadas.
Ha ou Desviar: nesse segundo momento, o aluno passa a quebrar
pouco a pouco as regras anteriores, ainda com o resultado final em mente. É o
momento em que a teoria e o conhecimento passam a desafiar as técnicas, e os
princípios passam a ser o diferencial para a evolução do conhecimento.
Ri ou Separar: nesse momento não existem mais técnicas, princípios ou
conhecimento útil que não venham de fora da mente. A partir de agora, as
atividades são executadas de forma natural, a evolução dos processos e do
conhecimento surgem do indivíduo e temos inovação e quebra de paradigmas.
28.09.2020
A oficina da luta é conceitual, ela é uma ideia, não se trata
de uma instituição, não temos sede fixa, estatutos, funcionários etc. O encontro
de pessoas que curte arte marcial, a troca de conhecimento, as parcerias, e a
discussão de temas é que formam isso que chamamos de Oficina. O movimento surgiu
por volta do ano de 2010, de maneira quase espontânea, em um momento em que um
grupo de educadores resolveu criar um movimento cultural que envolvesse a
criação de Cineclube, Grupos de Teatro e Danças, Cafés Filosóficos, Feiras
Literárias e outras manifestações locais , dentro deste caldeirão cultural que
estava se formando pediram ao Prof. Anízio Jr que apresentasse uma proposta envolvendo
a Arte Marcial , oportunidade em que apresentou um conjunto de ideias que
acabou na formação da iniciativa “oficina da luta” que tinha como proposta principal aproximar as pessoas ao universo das artes
marciais, através de treinos, pesquisas, palestras, laboratórios, encontros,
apresentações, produção de textos , franzines, e disponibilização de material
na internet.
Desde que surgiu a oficina assumiu diversas formas até chegar
ao formato atual. A princípio expressando sua visão sobre as lutas, em
fanzines, e desenvolvendo seus encontros e treinamentos em igrejas, clubes, espaços
culturais, escolas e salões da prefeitura. Até 2019 não teve uma sede fixa.
A oficina da luta se dedica a praticar livremente e de
maneira eclética todos os tipos de técnicas de autodefesa, contando atualmente com
vários colaboradores de diversas modalidades de lutas, ensinando e aprendendo
diversos estilos e formas diferentes. Com total liberdade para trocar
experiências, livre de amarras chamadas de "estilos".
Não possuimos nenhuma linhagem clássica ou hierárquica, apresentamos uma estrutura descentralizada, horizontal, sem chefe ou estatutos escritos. Nosso objetivo principal é formar uma grande comunidade de pessoas com ideias
semelhantes se ajudando através da troca de conhecimentos, sempre buscando
mecanismos para que as pessoas se conectem e construam relacionamentos
saudáveis com base na amizade, treinamento e respeito mútuo,
independentemente da categoria na faixa.
Apesar de se considerar um Grupo Independente, sem levantar
bandeira de nenhuma equipe ou ideologia, com autonomia nas tomadas de decisões
e livres de qualquer influência, atualmente tem seu trabalho reconhecido por várias
Comunidades Marciais e Associações recebendo diversos selos e certificados.